Qual é a importância do centro histórico de São Luís (MA)?

A capital do Maranhão está na ilha de São Luís e banhada pela baía de São Marcos sendo um exemplo clássico de uma cidade colonial portuguesa localizada na América do Sul equatorial. Em 1974, a cidade foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, posteriormente, em 1997 foi inscrita como Patrimônio Mundial. O núcleo original de São Luís está situado na confluência dos rios Bacanga e Anil tendo sido fundado pela França no ano de 1612.

Após a expulsão dos franceses, a expansão urbana da capital do Maranhão se consolidou nos moldes portugueses mesclando elementos materiais e imateriais caracterizados pelo meio físico e, também, pelas manifestações culturais com destaque para o Bumba Meu Boi e o Tambor de Crioula. Em linhas gerais, o Bumba Meu Boi pode ser compreendido como uma manifestação cultural marcada por uma combinação de danças, músicas, personagens e cores vibrantes. Atualmente, o folguedo maranhense conta com mais de 300 grupos que misturam elementos da colonização portuguesa na América, agregando aspectos religiosos, traços do folclore local e, também, da cultura indígena e a combinação celebra a devoção aos santos juninos, ou seja, Santo Antônio, São João e São Pedro. As apresentações nos arraiás não têm caráter competitivo sendo que os músicos e os cantadores são acompanhados de personagens como, por exemplo, o Amo do Boi, Pai Francisco, Mãe Catirina, Índios, Vaqueiros, Cazumbás para contar e cantar a história da morte e ressureição do Boi. Esta última figura mascarada é apresentada ao público com traje cheio de bordados coloridos e um badalo na mão, como um sino de boi. De acordo com as tradições populares, o cazumbá não é homem, nem mulher e nem animal estando entre a magia e o lúdico, podendo ser compreendido como a fusão dos espíritos humanos a partir das responsabilidades com o boi.

Cazumbá, obra de Nill Muniz

Cazumbá, obra de Nill Muniz (artista plástico maranhense) tendo sido adquirado em seu ateliê no Beca Catarina Mina, centro histórico de São Luís (MA) em julho de 2023. Fonte – Foto da autora

Aqui vale uma observação para não confundir esta manifestação cultural com o Boi Bumbá do Amazonas, mas isso é assunto para outra postagem. Por sua vez, o Tambor de Crioula do Maranhão é uma forma de expressão de matriz afro-brasileira que acontece por intermédio de uma dança circular feminina devidamente acompanhada pelo canto e o som dos tambores normalmente comandado por homens. Desde 2007, esta manifestação artística conquistou o título de Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira concedido pelo IPHAN. Assim, a data de 18 de junho passou a ser celebrada como o seu Dia Nacional sendo marcada por festas em diversas cidades do estado. O São Benedito é o santo de devoção e sempre aclamado como divertimento ou, ainda, como forma de louvor em localidades maranhenses. Suas raízes africanas remontam os séculos XVIII e XIX, a partir do ritmo dos tambores, em determinado momento, as coreiras ou dançadeiras por intermédio de um gesto característico, punga ou umbigada, fazem a saudação entre si e convidam outras mulheres para a roda.

Tambor de Crioula, Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Fonte – Palmares Fundação Cultural.

Tambor de Crioula, Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Fonte – Palmares Fundação Cultural.

Qual a importância da realização do Simpósio da ANPUH no centro histórico de São Luís (MA)?

Em 19 de outubro (dia do historiador) de 1961, a Associação Nacional de História (ANPUH) foi fundada na cidade de Marília no estado de São Paulo e desde então, a cada dois anos, realiza Simpósios Nacionais de História (SNH) que reúnem historiadores de todo o Brasil. Em julho de 2023, 32° SNH aconteceu na cidade de São Luís (MA) sob a coordenação da Universidade do Estado do Maranhão (UEMA), em parceria com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL), além dos Institutos de Educação Estadual (IEMA) e Federal (IFMA). Percentual expressivo das atividades (conferências, simpósios temáticos, minicursos, exposição de posters de incitação científica) ocorreu no centro histórico de São Luís. Assim, por alguns dias, muitos historiadores circularam pelas ruas que abrigam cerca de quatro mil imóveis dos séculos XVII e XIX e que possuem proteção estadual e federal. Entre as construções que se destacam estão o Palácio dos Leões, a Catedral (antiga Igreja dos Jesuítas), o Convento das Mercês, o Teatro Arthur Azevedo, entre outras. A rua da Estrela também foi muito percorrida pelos historiadores porque lá estão localizados os prédios do curso de História e, também, o de Arquitetura e Urbanismo da UEMA que abrigaram diversas atividades durante este evento acadêmico.

Convento das Mercês em São Luís (MA).

Convento das Mercês em São Luís (MA).

A construção do Convento das Mercês com mais de 5 mil m² se destaca no centro histórico de São Luís. Atualmente, ali funciona a Fundação Memória Republicana e o centro de Estudos Políticos e Sociais com expressivo acervo museológico e bibliográfico. A fachada principal está de frente para o rio e protegida por canteiros de palmeiras. A construção originária em taipa coberta de palha data de meados do século XVII e, no século XX, o local abrigou o Quartel Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado. Durante o 32° SNH, aconteceu ali o lançamento de livros e algumas das conferências que faziam parte da programação. Desde 2019, a comunidade de historiadores não se encontrava presencialmente em função da crise sanitária da COVID-19 e o (re)encontro foi muito importante para conhecermos novos objetos de pesquisa, abordagens inovadoras e participarmos dos instigantes debates que ocorreram.

Por fim, na Av. Pedro II e na frente da Catedral de São Luís no centro histórico maranhense está a estátua em bronze da Mãe D’Água Amazonense do artista local Newton Sá está inspirada na lenda que a define como uma mulher sedutora. Assim, com sua voz encantadora, a Mãe D’Água envolve, apaixona e enfeitiça pescadores, caçadores e índios que atravessam dos dias pelos leitos dos rios da região. O curioso detalhe a ser destacado refere-se ao fato de seus pés terem o formato que lembra as patas de um sapo. Como sabemos, os anfíbios passam parte do seu ciclo de vida na água e outra parte no ambiente terrestre. Certamente, o artista plástico pretendeu através desta metáfora registrar a contradição vivida pelo Maranhão, ou seja, apesar de geograficamente integrar o Nordeste brasileiro, este estado tem raízes históricas, questões de clima, o tipo físico dos indígenas muito mais próximo dos estados vizinhos do Norte como, por exemplo, Pará e Amazonas. A sensação de pertencimento da população não necessariamente se harmoniza com os dados estatísticos oficiais e, certamente, este pode ser um tema para novas pesquisas históricas. Valeu, Maranhão!

Figura da Mãe D’Água no centro histórico de São Luís

Figura da Mãe D’Água no centro histórico de São Luís

REFERÊNCIAS

Centro Histórico de São Luís (MA). http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/34 Acessado em: 07 de agosto de 2023.

Convento das Mercês. http://turismosaoluis.com.br/pages/detalhes.php?cod=313 Acessado em: 09 de agosto de 2023.

Fonte da Mãe D’Água – São Luís. https://picosma.com/fonte-da-mae-dagua-sao-luis/ Acessado em: 09 de agosto de 2023.

Guia de Turismo e viagem de Salvador, Bahia e Nordeste brasileiro. https://www.bahia.ws/convento-das-merces-em-sao-luis-do-maranhao/ Acessado em: 07 de agosto de 2023.

Qual é a diferença entre o Boi Bumbá e o Bumba Meu Boi? https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/cultura/audio/2023-06/saiba-qual-e-diferenca-entre-o-boi-bumba-e-o-bumba-meu-boi Acessado em: 07 de agosto de 2023.

Tambor de Crioula do Maranhão Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. https://www.palmares.gov.br/?p=37269 Acessado em: 07 de agosto de 2023.